18.12.08

E.T.




Era óbvio e brutal.
Doído de tão simples.
Maquiado de ofertas e apelos de felicidade.
Vou contar mais ou menos.
Pois já faz um tempo, e talvez minha lembrança já esteja anuviada de esquecimento.
Poderia ser um momento bobo, mas pragente não.
Falo em “agente” pois não sou um ser só. E carrego o fardo de amar e a alegria de sofrer junto com os que são meus pelo sangue.
E lá estávamos, entre corredores de secos e molhados, e suas misturas de cheiros.
Aquecidos pela certeza do alimento do corpo.
E foi aí. Num momento igual a tantos outros.
Simplesmente uma lucidez óbvia.
Olhei as pilhas gigantes de arroz, enlatados, mares de legumes, frutas..
Tudo ali. Era só esticar as mãos e pegá-los.
Levar para o seu refúgio. Como nos tempos antigos, ainda hominídios.
Mas tinha uma diferença. Estava tudo ali. Tudo.
Pra muita gente, todas as famílias. Pra muitas barrigas.
Mas não poderiam sair de lá.
Tudo o que estava lá não podia sair.
Só se fosse trocado por dinheiro.
Então se não houvesse dinheiro, nada saia de lá.
Nada.
Numa terra onde quase niguém tem dinheiro.
Onde nada se divide.
Se troca.
Mas a troca só acontece através do dinheiro.
Aí eu também descobri que o dinheiro não existe!
Não passa de uma invenção. Que acontece através de papéis assinados e carimbados com símbolos inventados. Aí depois de inventados, são pintados num papel que vão parar nos bancos.
E não me venham falar que dinheiro se troca por trabalho!
Seria cinismo demais.
Olhei ao redor.
Era um templo. De fartura.
E nele, o valor de cada um era medido pelo seu valor no mercado.
Sem valor, sem comida.
Tudo isso era demais óbvio!! Era uma lógica inventada, que parecia natural. Mas não era!!!
E me senti um E.T.
Sai me sentindo um E.T.
E acho que vou me sentir um E.T. prasempre.
 
 
 

4 comentários:

Caius disse...

Realidade muito triste.
Eu aceito escambo! :)
Você já leu Ismael, e outros livros do Daniel Quinn?
Ele diz que a partir do momento que o homem passou a guardar a comida e obrigar a população à trabalhar para tê-la ao invés de pegá-la livremente da natureza, nossa civilização passou a caminhar rapidamente para o colapso do planeta com um todo.

bj

Anônimo disse...

nossa caius, nunca li!
alias adoraria q vc me indicasse umas obras desse calibre...
ah! e nosso escambo ja ta mais q combinado!!

:D

Marcelo Viegas disse...

Veronica,

obrigado pela visita e pelas palavras gentis.

E, de fato, o dinheiro não existe. Ele é, como dizia um antigo professor de economia, a maior abstração que se tem notícia. E nós continuamos acreditando...

Beijos
Viegas & Zinismo Crew

amores brutos disse...

pois e viegas..
acorrentados pelo sistema..
adorei o blog de vcs e vou continuar emitindo opinioes, ainda que tardias.

saludoos!

V