21.12.08

nua na arena



Esperou.
Já havia pedido, evocado e agora era esperar.
E esperava o pior.
Andar de quatro, chorar copiosamente. Sair rolando na terra.
Ser engulida pelas profundezas do inferno.
Então esperou dignamente ajeitando madeirinhas na fogueira.
Levantou os olhos e cruzou os dele.
Foi rápido, mas se entenderam.
Ele veio, e disse algo em seu ouvido.
Ajeitaram-se.
" Tá pronta?"
"Tô."
E veio o primeiro.
Depois o segundo. Um de cada lado.
O rapé do capeta bateu no cérebro.
" Ai e agora?"
E riram. A força estava atingindo o clímax.
Seu corpo esfriou todo e sabia que o desmaio era quase certo.
Olhou pro lado.
E saiu.
" Melhor desmaiar longe daqui."
Alguns passos depois já estava sentada no chão, as mãos na terra, enquanto a música ia ficando cada vez mas forte.
Abraçou os joelhos, e permaneceu assim um tempo, sentindo-se.
Esperando o pior.
Mas algo aconteceu.
A escuridão lamacenta e preta não dava medo.
E dela, diamantes de vários tamanhos começaram a brotar.
Torrentes de chuvas e diamantes, e mais diamantes que sumiam e mesclavam-se a beijinhos, e mais torrentes e mais diamantes e mais beijinhos.
Tudo no escuro.
Ela lhe carinhava, com imagens de neon que surgiam e sumiam mesclando-se.
Gratidão. Merecimento.
O tempo de purgatório havia acabado.
"Você aprendeu. Se despiu e foi pra arena."
Era isso que ela lhe dizia.
Olhou pro céu com poucas estrelas e uma lua sorridente.
Um vento fresco mantinha seus dedos frios.
O barulho do mato, fervilhando de vida, se impôs.
Os beijinhos, os tambores, os diamantes, as torrentes de amor, as vozes.
Era a forma de dizer que ela havia passado. As felicitações.
Levantou-se com muita honra.
Recolheu alguns gravetos e madeirinhas.
E voltou pra junto da fogueira.


Um comentário:

Pantha disse...

Tem Ayahuasca aqui!