11.2.08

aurora cítrica com cobertura de nuvens multicoloridas




Era uma vez uma sereinha que queria ir embora pra longe . Não sabia onde.
Seu pai se chamava Tempo e sua mãe Solidão.
Ouvira falar do sol que era muito brilhante e quente e que em algum momento do dia, encostava no horizonte, bem pertinho do oceano.
Um dia decidiu partir.
E ficou esperando o momento em que ele, amarelo e quente, retornaria à sua morada.
Esperou, esperou.
Observou atenta seus passos lentos, sua caminhada monótona, seu zênite que a fez cerrar os olhos e sua decida em direção a espelho d'água.
Ela era uma sereia só, e pensou que não seria um peso no castelo do sol, pois ela era pequena e não ocupava muito espaço.
Além disso, sabia pintar-se de palhaço, cantar algumas músicas..
Talvez ele também fosse só.
Podiam brincar de contar histórias e nos dias em que o sol estivesse triste, ela faria companhia voando ao lado dele, que assim, as horas passavam mais rápido.
Depois de muito esperar, ele foi se aproximando da superfície lisa e prata do horizonte, bem naquela linha em que o céu junta com o mar.
O coração dela apertou o passo, pois era só um coração bobo de sereia.
No céu uma paleta de rosas, liláses e laranjas cítricos deslizavam colorindo nuvens.
Foi quando o sol cansado e distraído reparou naquele pequeno ser que mais parecia um balãozinho assustado.
Olhou aqueles olhinhos quase transparentes de tão escuros que eram.
Se ateve à pintura de palhaço que lhe dava um aspecto triste e borrado de tanto esperar. Notou também que havia um buraco em sua cabecinha e que lá dentro flutuavam letras de músicas que falavam de sonhos, solidão e amor.
O silêncio regia cada segundo da orquestra . Da orquestra que ia até onde a vista alcançava.
Até que desse silêncio, veio um silêncio muito grave e claro, que disse:
"- Quer vir comigo? "
A pergunta lenta e quente entrou no peito da sereinha, iluminando-a toda.
Num sobressalto, ela retomou a respiração, balançou a caudinha curta, segurou a mão do sol e, juntos,
foram embora pro infinito.

FIM


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