18.8.15

quando os rios se encontram






















caiu uma, depois outra.
as pernas eram suas asas 
o prumo eram duas rodas.
no peito tinha tanta coisa.
mais outra.
o céu abriu 
e derramou no meio da cidade.
era ela.
ela pediu.
podia buscar uma laje, um pedaço de abrigo.
era tanta água, batia nos olhos, 
entrava na boca.
o cabelo grudado no rosto, 
sua meias molhadas.
a cidade era aquilo.
boiando lixo e sonhos
borrada de fuligem.
e ela nadava voando.
lembrando de coisas,
sorrindo dos seus segredos.
vestida somente de água.









11.8.15

encaixe

eram mãos de mulher
vindas de algum firmamento.
meu coração vermelho e quente,
sempre faminto
coube direitinho.
era um encaixe molhado, silencioso.
eu só queria mais daquilo.
meu pensamento favorito,
segredo ensolarado.

24.7.15

água viva

emergiu completamente.
olhos abertos,
despida de tudo.
a água escura não dava medo.
plutão chamava em silêncio.
era escuro e era dourado.
tão bonito.
ela só queria ficar mais
só mais um pouco.
mais um pouco
mais perto.
a água tinha tomado todo o corpo.
nos olhos dela só tinha água.
e na boca
nela toda.
não tinha como resistir,
não tinha porque resistir.
ela não queria.

ela queria.






7.7.15

todas

só hoje sedimentou.
tava frio, dedos duros, coração quente.
o futuro pode ter sol, uma voz diz.
meninas de espírito forte
calor de ser muitas, ser todas.
o que mais a gente tem?
umas às outras.
e isso não é pouco.

3.7.15

sol
























olharam-se.
elas eram iguais.
teve de sorrir.
estava sol do lado de dentro
e nessa hora um laço se fez.





22.6.15

escura

































era de noite
e ela nua de tudo.
seu corpo brilhou na luz vermelha, reluziu pelo azeite que tinha sobre ele.
só se ouvia o som de seu coração, mais nada.

16.6.15

depois da chuva























a fogueira fez da água fumaça.
a mão dele tocou suas costas morenas.
pra que?
logo nela, bicho de rapina.
atravessou a pele, a carne, o osso.
o fogo lambia vermelho, amarelo, laranja.
ela deixou.

28.7.14

tudo o que sou eu, pra você.



































ah, meu amor.
o que eu tenho pra te dar?
só a minha existência confusa,
minha alma aprisionada
e um coração de vapor de chuva.

meu amor.
esse mundo não é meu.
as vezes eu queria dormir pra sempre.
quando eu sonho eu vôo tanto,
mas nunca consigo voltar pra casa.



5.5.14

esquecimento


























Tudo era esquecimento.
O som dos carros
o começo do inverno
as palavras que eu não disse


21.4.14

*enquanto ele voava*























eu não me lembro.
porque que não era mais livro
papel com letras,
algo de fora, inventado.
era eu.

eu mulher, eu menina
eu bicho, eu água.
eu amor.
coisas que não se escolhe.

roupa rasgada
flutuando
correndo em camera lenta
toda trapos coloridos.

que vontade de chorar
de tão bonito
seu mundo de histórias
morte e vida.

fugindo o tempo inteiro
sonhando de olho aberto
eu tento
mas não me lembro.

não lembro.
porque virou eu.


(para gabriel garcía márques)